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Tempo de Eufemismos

Não é que eles sejam ladrões ou mentirosos, talvez pelas circunstâncias fizeram um pequeno delito de desviar dinheiro para o caixa dois. Foram desavisados, ou melhor, inoportunos. Só pensavam no bem…são até heróis.

O conhecimento para o homem já o fez passar por maus bocados, desde a saída dos jardins do Éden ou da ascensão do homo sapiens no planeta, até a plena utilização da mídia e da Internet que, dialeticamente, difunde e concentra toda a informação. E esta, é tão volumosa e diversa que ficamos ainda mais atônitos na busca de um sentido concreto e verdadeiro das coisas. É tanto eufemismo nas notícias que vemos e ouvimos, que duvidamos que o verde e vermelho sejam distintos. Será? Há pessoas que, fora o daltonismo, insistem que o espectro de luz visível pelo olho humano não consegue diferenciar os componentes, e sim a cor resultante, proveniente do comprimento de uma onda eletromagnética. Enfim, de maneira confortável nas relações sociais presentes, Friedrich Nietzsche se instala: “A verdade não existe, e também não há fatos, somente interpretações que virão a ser, mais ou menos, poderosas”. O nono mandamento então, não levantar falso testemunho, passa ao largo para um grupo acostumado no poder pelo poder. Até mesmo Diógenes, aquele que saiu na Grécia antiga, com uma lamparina acesa em dia claro, procurando um ser humano honesto e verdadeiro, provavelmente teria, hoje, que mudar seu equipamento para um super holofote. E quando se fala em holofotes, entendemos a atualidade, infelizmente, do que disse o estadista inglês W.Churchill, na década de 20 do século passado: “O grande problema que enfrentamos, é que os homens não querem ser úteis, apenas importantes”.

As previsões para o corrente ano e 2015, em termos de desempenho sócio-econômico brasileiro, dependem muito mais da atual taxa de inflação que propriamente do rompante de Mantega e agora, da candidata Dilma.

Quanto mais alta for a inflação de 2014, mais difícil será a queda da taxa de juros no país, devido ao controle tipicamente monetarista, paradigma herdado e protegido pela atual administração do Banco Central. Queda dos investimentos de um lado, arrocho e desemprego por outro. E a gritaria já é geral, pois 2014 é ano de eleição presidencial, que sugere um enigma: criador ou criatura?

E como já é nítido e notório, o Brasil vem dando vexames ao ocupar as mais pífias posições no crescimento de seu PIB, comparativamente a outros países, principalmente da América Latina. É dessa forma que se prepara um terreno fértil para colher, no ano de 2015 que se aproxima, não só os novos eufemismos, mas também as mentiras e leviandades dos que, impulsionados pela propaganda, tentarão vender lagartixas como se fossem verdadeiros crocodilos. Isso é típico de ilusionistas ou mágicos como os existentes na atual administração do Ministério da Fazenda.

O setor produtivo está cansado de criticar o “excesso de conservadorismo” do Banco Central pela manutenção da taxa real de juros em patamares elevados, algo em torno de 11% (3a. maior do mundo), retirada uma inflação que teima em romper o teto da meta de 6,5%  ao ano. A equação embora econômica, tem solução política na busca da reeleição.  Mas, na história da Economia mundial, nunca se viu o equilíbrio econômico na balança do desenvolvimento, quando o peso no prato da taxa de crescimento é leve como espuma. Câmbio desvalorizado, altos gastos e salários (da elite) públicos, burocracia extremada, sonegação fiscal dos heróis do caixa dois, são âncoras amarradas no pescoço de quem luta para ter competitividade nos produtos e serviços.

Nesse período até o dia 26/10, o aumento significativo da propaganda maciça, como uma espécie de lavagem cerebral, fará crer que as indulgências políticas dos governantes os transformam em baluartes da eficiência e probidade públicas. A saída é aprender com outro sábio grego, Antístenes, discípulo de Sócrates, que foi fundador da escola de cínicos, e abominarmos as convenções paliativas, oportunistas e privilégios baratos, dando o troco nas urnas.

Márcio Bambirra Santos
mb@mbambirra.com.br
Professor

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