Close

Aos Trancos e Barrancos

O nosso país não pode ser achincalhado pelos poderes públicos. Tanto o Executivo, como o Legislativo e, principalmente, o Judiciário estampam as principais manchetes na mídia como uma lâmina afiada que sangra mortalmente o que existe no art. 37 da Constituição Federal que, academicamente, passamos aos nossos alunos como o principio _pasmem no acróstico_  LIMPE: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

O que causa mais espanto no cidadão é a desfaçatez dos que racionalizam seus contra-exemplos: roubam e fazem caixa dois e dizem que isso é normal, justificado no espírito de corpo (ou será de porco?) no manto da escuridão de votos secretos; ou quando defendem salários que chegam a 35 ou 40 vezes o valor do salário mínimo, alegando uma plenipotência de burocratas encalacrados, transformando a justiça (somente) em ato divino; ou ainda, na proteção de mandatários que tudo podem, sem padrão ético ou comportamental para responderem à sociedade por seus “pequenos” deslizes no assalto à já distante moral nacional. Políticos, juízes, ministros e militares, devem se esforçar na melhoria de suas imagens.

Todos não, e felizmente. Mas, temos a impressão de que houve uma inversão entre a regra e a exceção. A matemática de Karl Gauss mostra que a nossa curva normal é cada vez mais assimétrica e dispersa no conjunto de valores de convivência das pessoas, ou seja, a maioria das ações afirmativas da Responsabilidade Social sempre fica abaixo da média da promoção da cidadania e integração das comunidades. Existem tais ações, mas são meramente ilustrativas com foco na propaganda barata e enganosa que subtrai as necessárias realizações e exemplos concretos. Apresentam, quase sempre, uma tendência de descontinuidade em projetos sistêmicos, comprometendo a expectativa e resultados positivos contundentes.  Difícil para uma aritmética social dimensionar isso, mas fácil para a História que apresenta documentação de sociedades que embarcaram no individualismo e privilégios de pequenos grupos e castas, e desapareceram. Outras tantas terminam sob a égide do totalitarismo e da convulsão social, quando não caem na desmoralização da interferência externa: do antigo Egito, passando pela Grécia, Roma, império otomano, ou a União Soviética, até os dias de hoje quando vimos Kosovo, Haiti, Palestina, Iraque ou mais de uma dezena dos 52 países que compõem a África, esfacelados. Tem conserto, mas fica a frustração pelo tempo perdido em reverter o grande dano feito, como espinho na garganta que precisa ser tirado ou a queda de um ministro.

Sabemos, a meia encosta, que a elite, seja a financeira ou a intelectual festiva, burramente favoreceu essa ordem das coisas, por não ter um projeto de longo prazo de redução da pobreza, e só se preocupar com o proveito exclusivo.

Antropólogos e sociólogos especialistas no estudo dos determinantes da perenidade das comunidades, inclusive indígenas, traçaram uma linha comum da necessidade da convivência entre as pessoas e os resultados a que chegam em termos de satisfação para o grupo atual, e a ampliação deste em relações sociais mais complexas e duradouras. Essas relações têm como base a obediência às normas válidas sem privilégios, e um princípio de justiça. Nessas condições, a velocidade e mola propulsora na obtenção de resultados significativos a todos, são de um lado da moeda as ações exemplares das autoridades, e do outro lado uma confiança valorizada nas gerações mais novas, que irão copiar tais exemplos. Fora disso, e com a acentuada estratificação social em países como o nosso, o resultado é um continuum desafio de filmes policiais: “Falcão: meninos do tráfico”, “Brasil: O maior entreposto da Colômbia”, “Seqüestro Relâmpago: Você também vai conhecer essa energia”, “Mãos ao alto: Como o seu imposto financia a dancinha dos políticos”, fortes candidatos ao Oscar do desmanche nacional.

Márcio Bambirra Santos
mb@mbambirra.com.br
Professor

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *