A Ratazana com PhD

A Ratazana com Phd. – Luiz Felipe Pondé
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/195937-a-ratazana-com-phd.shtml
Caro Professor,
Vou me ater à sua crônica na Folha, embora há muito conheça parte de seu discurso pela mídia e artigos acadêmicos, sempre com parcimônia e coerência intelectual.
Sou professor doutor no CEFET-MG e em 35 anos de magistério superior o que eu vi, foi o que você apontou resumida e objetivamente em seu artigo: ano após ano, o aluno da graduação superior é uma moeda que quase não vale nada, longe de influenciar o desempenho de seus professores. Seu valor ou papel é restrito às manifestações públicas, onde os batoques são movimentados mais acima. Também pudera, ao longo dos anos o único fator do desempenho de grande parte de professores são os artigos que produzem e comunicam o nada a ninguém. O restante tem seus pontos concedidos pelo exercício de burocratas no sistema. Em outras palavras, é criado um feudo com um corporativismo intransponível na medição da satisfação e resultados dos trabalhos que realizam.
Como reflexo nefasto desse (des) controle social que se arrasta e não cede, vemos uma mistura de atores numa peça caótica. Nos países asiáticos, europeus e de língua inglesa, onde a cultura protege e blinda o respeito aos cidadãos, não há confusão ou falso nivelamento entre categorias. Professor é professor, teacher é teacher, coach é coach, instructor é instructor. Aqui, até chefe de quadrilha virou professor.
Poderia me alongar nessa mensagem com “n” casos que ilustram e comprovam o exposto acima, mas sem maiores esforços, basta ver que qualquer menino(a) nessas últimas décadas faz uma graduação, um mestrado e/ou doutorado, passa em um concurso e se intitula professor. O reflexo da insegurança na exposição pública é mantida através de uma agressividade e desrespeito para com os próprios alunos.
A condição da experiência profissional no exercício da função, fundamental para um professor de Medicina, Engenharia, Administração, e tantos outros cursos que exigem a prática profissional, é relevada a terceiro plano. Primeiro vem a titulação, depois as publicações e, olhe lá, em último a experiência na área que pretende lecionar.
Assim, quando o neófito cai na frente de uma turma, começa o calvário: aulas com anotações nas mãos, provas e exercícios sem fundamento ou retorno pedagógico, distanciamento e desprezo na relação aluno-professor, banalização do processo de desempenho do todo, pois a miopia/cegueira acadêmica só permite ver o próprio umbigo.
Na minha instituição, por exemplo, o mais comum é ver professores de péssimo desempenho em sala de aula (com abaixo-assinado de alunos pedindo a sua remoção de disciplinas), ocupando cargos relevantes na burocracia institucional, ou seja, se você é ruim como professor ganha o mérito de prejudicar seus colegas como chefe.
Por outro lado, eu conheço alguns poucos colegas, sempre homenageados pelos alunos (paraninfos, patronos, etc) que nunca receberam qualquer cumprimento de seus superiores hierárquicos, e são apenas sombras na avaliação da burocracia federal do MEC/CAPES. Sabe o por quê? Porque o poder público não acredita na meritocracia na Educação e nem sabe medi-la. Se soubessem, entenderia que os alunos homenageiam quem mais os ajudaram. Mas o que são os alunos? Infelizmente são as salsichas, como você disse.
O que esperar das pessoas de formação frágil como professores, médicos, engenheiros, advogados, etc, e que ocupam postos de tomadores de decisão no sistema? Uma mudança para melhor? Talvez, em gerações.
Você como observador e crítico do cotidiano já entendeu melhor essa realidade, pois sabe que o tempo levado para conversar com as pessoas da esfera do ensino federal, só alinharam a crítica sobre o abismo que separa os pensamentos e ações de profissionais tupiniquins, com os existentes em países mais desenvolvidos.
Aqui infelizmente, as nossas mazelas educacionais se compõem de desafios de uma herança inesgotável!
Att.,
Prof. Dr. Márcio Bambirra Santos
Administrador e Economista
mb@mbambirra.com.br