Vergonha
A palavra poder no Google forma uma onda de mais de 3,5 milhões de sites, referenciada na política, no estado, na autoridade, na família, na psicologia ou na filosofia. É inerente, na história do Homem, a disputa sequiosa pelo poder, e a democracia é o meio mais exuberante encontrado por ele mesmo de arrefecer, e até impedir, a radicalização dos detentores do poder. Renovação, mudança e alternância são os antídotos naturais da democracia que combatem a ambição pública desmedida.
Essa mágica ilusória e nefasta do pleno poder, sempre acaba em totalitarismo, desmandos e cegueira coletiva pelo medo, até o momento de ruptura (distensão, conflito, revolução) onde o sistema ideológico dominante não consegue mais se justificar, recrudesce e implode. Isso aconteceu na extinta União Soviética, acontece em Cuba, na Palestina e em algumas nações árabes e orientais. Tal qual uma peste insidiosa, o pleno poder tenta abrir os seus tentáculos em países como a Venezuela e mais recentemente no Paquistão, e parece que o PT também o quer no destino do Brasil.
Um partido político que não consegue se estabelecer com um projeto econômico-social próprio e consistente ou pela competência de seus quadros, com raras exceções, busca freneticamente se impor pela força do poder de governo e instituições coligadas. Seja no apoio aos simpatizantes de escalões inferiores da vida pública onde há uma corrente infindável de puxa-sacos que aplaudem as migalhas concedidas, ou na letargia infindável de processos burocráticos que travam os melhores empreendimentos, ou ainda na intimidação de um cipoal de portarias e leis convenientes.
Além do mar de corrupções conhecido por toda a sociedade _ mensalão, Infraero, Correios, Petrobrás e ONG’s do dinheirinho fácil, Renans, Dirceus, Valérios_ onde sempre há um elo partidário dos companheiros, os tentáculos que eles estenderam são os mais terríveis que qualquer outro instrumento que o regime militar, na sua época, impôs ao país. Exemplo disso é a Portaria Normativa 21 de 30/04/2007 do MEC que não deixa dúvidas: delega competência para diretores e reitores julgarem, exonerarem e demitirem servidores públicos federais vinculados às essas instituições de ensino. Na época, o Ministro da Educação Fernando Haddad, atual candidato a prefeito de São Paulo, fez direitinho o seu dever de casa, repetindo a máxima de “quem não tem cão, não quer escutar latidos”. Típico instrumento que coroou a sua administração pífia junto àquele Ministério, associado a falta de gerenciamento em que veio trupicando nos diversos anos do ENEM. Aliás, esse será um dos grandes desafios de Aécio como presidente: desmontar o aparelhamento existente nas escolas federais, dominadas, na grande maioria, pelo PT e PCdoB.
Quem entende de Controle Social do Estado identifica de imediato o elo entre a Portaria acima e o decreto presidencial (8.243/14), que regulamenta a participação da sociedade civil na vida pública e institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), felizmente rechaçada pelos outros poderes, imprensa e sociedade brasileira. É o estilo bolivariano de ser: Venezuela, Bolívia, Argentina e alhures entendem bem disso. Eles não param de tentar o projeto de poder do PT: “tudo farão pelo povo, mas nada para o povo”.
A educação pública, como todos sabem, continua de mal a pior, tanto a educação básica como a média ou a superior, então o jeito foi impor um ambiente de medo, perseguições e intimidações aos professores e funcionários das escolas públicas federais. Uma mordaça funcional para não comprometer a ideologia pífia, como aconteceu na última troca da diretoria do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). E o capital humano da população? Fica igual ao do PT…
Ninguém reclama, todos se esforçam para continuar cumprindo o roteiro, com a (in) consciência de não comprometer é claro. A diversidade, os diferenciais críticos e as opiniões contrárias vão para debaixo do tapete da dependência econômica. Com o tempo, o viés político desse patrulhamento nas universidades resultará no seu massacre técnico. Ou será que um pesquisador conseguirá desenvolver os seus trabalhos com independência da direção de sua instituição? Terá apoio financeiro ou tecnológico, mesmo sabendo que a cúpula é contrária àquela linha de pesquisa?
O que dizem os sindicatos da categoria? Nada, pois eles não querem dar tiro no próprio pé. Estão mais preocupados em manter a linha do “governo do trabalhador” com as suas centrais sindicais que lutaram (?) tanto para não perderem o imposto sindical e outras bandeiras de interesse das bases (argh). Vez por outra, a exemplo do que vem acontecendo, organizam uma greve e, ao sinal do primeiro confronto com o governo, voltam com o rabo entre as pernas.
Imagine o leitor, sem muitos esforços, que a portaria ministerial acima colocou a “vida de gado” (povo marcado, povo feliz…) da música de Zé Ramalho, nas maiores instituições acadêmicas, porque nas menores como as agrotécnicas e CEFET’s do interior, sempre foi um pouco diferente: o inferno da opressão e vigilância ilimitada do Big Brother de G. Orwell, onde o poder central tudo controla e direciona.
Enfim, cumpre-se bem o modelo do pleno poder: um gestor que acusa, julga e também condena.
Márcio Bambirra Santos
mb@mbambirra.com.br
Professor