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Quadrado Mágico

A magia continua no ar, seja no Galo do Levir Culpi ou na sobrevivência do dia a dia. Embora conheçamos pessoas que abominam o futebol ou não se interessam pela política econômica do governo, 2014 é um ano que o Brasil irá conviver com mágicos.  Alguns, sem dúvida, tão ardilosos quanto a rainha de Branca de Neve, criada pelos irmãos Grimmm,  que nos leva ao mundo mágico de interesses e vaidades. É o caso do atual time do Atlético Mineiro, que  tanto pelas táticas da comissão técnica, mas também pelos talentos individuais da genética malandra do futebol brasileiro, possui um quadrado mágico: Luan, Guilherme, Jô e Tardeli, e que se incluir Dátolo já se transforma em pentágono, numa inflação _muito bem vinda, em Campeonato Brasileiro_ de outros valores. É muita estrela por metro quadrado e muita vaidade a ser bem administrada pela diretoria. Safra igual a essa só na conquista da Libertadores  onde a estrela maior era Ronaldinho Gaúcho. Respeitado e temido, o atual time puxa para si uma faceta nos ditames de Machiavel: é preferível ser o autor a ser vítima de uma injustiça (desigualdade social). Parece até o clichê da rainha má, e o investimento tem uma razão! Se lembram dos últimos campeonatos? Ver alguns dos dribles dos craques de hoje, além de entendermos o porque da magia, aprendemos a evitar as armadilhas que caímos, literalmente, no Brasileirão de 2005, com o gosto amargo da 2a. divisão. Coisas da incompetência de uma diretoria que estava mais para “banco” que para titular.  Enfim, vamos reforçando a cultura de cassino da sociedade atual, onde (quase) tudo é um jogo; que o importante é ganhar, e se perder, que seja na expectativa de aprender e entrar em jogo, novamente.  Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima, palavras de “vox Dei” que Paulo Vanzolini colocou, para sempre, no cancioneiro popular nacional.

Outros Mandrakes, no entanto, podem ter um resultado surpreendente nas atividades do quadrado mágico da economia nacional: PIB, Inflação, Balança de Pagamentos e Emprego. Tudo reunido na Contabilidade mágica de Guido Mantega e reforçado por esse governo melancólico do PT.

A inflação anual de 6,74% é o mote para a política de juros real (11,00%), uma das mais elevadas do mundo, que inibe investimentos e a necessária geração de empregos. Nas contas do Ministério do Trabalho, por exemplo, a maioria das vezes espelha números absolutos em longos períodos, principalmente nas falas oficiais. Se mostrasse uma evolução percentual, a mágica seria pífia. Segundo os dados de 2009/11 da pesquisa domiciliar do IBGE, 36,58% dos trabalhadores estão na categoria sem rendimentos (ou benefícios) ou ganham até um salário mínimo mensal, isto é, R$ 300,00, participando muito pouco do mercado de consumo. Entre o topo da distribuição de renda que compreende 10% dos trabalhadores que constituem o mercado relevante para a maioria dos bens e serviços e 40% dos excluídos, temos 23,12% de trabalhadores que ganham de R$ 500 a R$ 1.450,00. Esta é a classe que constitui o noticiário da economia brasileira. Quando o emprego se expande e os salários aumentam, ela sente imediatamente os efeitos e amplia a gama de bens consumidos, mas se há queda no nível de emprego e os salários reais caem, é a primeira classe afetada, diminuindo a demanda. Tal fragilidade é o que os especialistas conceituam com um dos fatores da insuficiência dinâmica da economia. É como querer tirar uma pomba da cartola, e sair um ratinho.

Da mesma forma ao compararmos os crescimentos percentuais do PIB do Brasil, abaixo de 1,0% em 2014 com outros paises da América Latina (4,7%, no conjunto): Venezuela, 4,5%; Argentina, 8,3%; Equador, 6,4%; Uruguai, 6,8%. Menos que o Brasil, só a Costa Rica com 0,2%, dados da CEPAL (Comissão Econômica Para América Latina e Caribe).  O ratinho continua a rugir.

Por último, a Balança de Pagamentos, que veio surpreender a todos. É a mágica acima, só que inversa, felizmente, o que ainda não fez surgir a pomba da esperança. O desempenho das exportações e importações em 2013 registrou um superávit (exportações menos importações) de US$ 2,56 bilhões em 2013, o pior resultado para um ano fechado desde 2000 – quando foi apurado um déficit de US$ 731 milhões. Muito embora saibamos pelo filósofo Heráclito que não podemos nos banhar nas mesmas águas de um rio por duas vezes, esperemos que em 2015 essa mágica possa ser estendida além das fronteiras dos produtos primários e de mineração e siderurgia, para bens (produtos e serviços) que agreguem o trabalho e a competência das pessoas de outros setores. Essa sim, poderá ter um final feliz digna dos contos dos irmãos Grimm.

Márcio Bambirra Santos
mb@mbambirra.com.br
Professor

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