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O Muro

A nação aguardou por um desfecho dos fatos políticos do julgamento do MENSALÃO, e agora quer saber sobre o PETROLÃO, que vêm se tornando exercício na hermenêutica de advogados e desembargadores, nas denúncias feitas na imprensa.  A dignidade e respeito na coexistência entre os cidadãos comuns não incluem a impunidade da desfaçatez dos que insistem nesse moribundo jeitinho brasileiro. Agora se fala em blindagem, proteção, investigações sigilosas. A apreensão é com o cheiro de pizza no ar. Mesmo contrariando a transparência e liberdade democrática, buscam levantar um muro (especialidade da jurisprudência nacional) para ocultar pessoas e instituições. Afinal, na história da humanidade, muros há de todos os tipos.

Na China, que assusta todo o ocidente pelo seu rápido crescimento e pelo rigor nos crimes contra a sociedade, também tem seu muro com cerca de 6.000 quilômetros e foi construído no séc. III a.C e terminado na dinastia Ming, séc. XVII d.C, para reprimir as invasões dos mongóis e tártaros. O muro de Berlim, erguido por Kruschev a partir de 1961, impondo na Alemanha uma cicatriz da abominável Guerra Fria, reafirmava, sobretudo, a derrocada dos ideais canhestros de Stalin e seu partido, que somente foram superados a partir de 1989, com a própria queda do muro. Já nos domínios de Israel, existem dois: o muro das lamentações e o da vergonha. O primeiro, venerado pelo povo judeu, em Jerusalém, como lugar sagrado de um antigo templo destruído pelos dominadores romanos (Tito-I d.C), onde se lamenta a dispersão (diáspora) das antigas tribos e comunidades. O segundo, mesmo considerado contrário às leis internacionais (Corte Internacional de Justiça, Haia, Holanda), começou a ser erguido em 2.002, em Belém, como o muro antiterrorista, contornando a Cisjordânia, numa extensão de mais de 600 quilômetros, separando a vida de milhares de palestinos de suas aldeias, plantações e centros populacionais. Há ainda os muros da segregação racial (apartheid) que foram levantados durante décadas nos EUA e na África do Sul, causando milhares de vítimas do ódio proveniente da dominação e da escravidão. Dentre seus maiores críticos e perseguidos se destacam Martin L. King e Nelson Mandela que sempre gritavam, e sonhavam, pela integração das raças, numa igualdade para a educação, oportunidades de vida e supressão dos novos quilombos (favelas e guetos).

Quem não conhece a história de Pink, do filme de Alan Parker, do conjunto homônimo Pink Floyd, no qual surge com toda a força a música “Another brick in the Wall” (Outro Tijolo no Muro)? Esse personagem ergue um muro fictício que o separa da vida real, após sofrimentos da lembrança do pai, das desavenças com seu professor e da traição da esposa: “Não precisamos de nenhum controle de pensamento… De nenhum sarcasmo sombrio na sala de aula… Ao todo, isto é apenas mais um tijolo no muro.”

Há também a poesia/música de Lulu Santos, “Tempos Modernos”, que observa o muro bem do alto: “Eu vejo a vida melhor no futuro, eu vejo isso por cima do muro de hipocrisia que insiste em nos rodear…”, quase um (desen) canto à politicagem que o país presencia.

Algumas das grandes pedras do muro da corrupção têm-se o prazer de ver ruir, como aquelas que se consideravam indestrutíveis no prestígio de seu poder, até minar um pouco da água, que em tudo penetra e mostra, como aconteceu nas reportagens da imprensa nacional do ex-governador Eduardo Azeredo, passando por Mauricio Marinho (Correios) e nas 3 dúzias de “cidadãos acima de qualquer suspeita” do Mensalão ou no Pizzolato do Banco do Brasil, até chegar em Paulo Roberto Costa, Cerveró e Gabrieli na Petrobrás.

No momento, não há espaços para posições dúbias, nada de ficar em cima do muro, pois as mudanças só podem vingar a partir da alteração de pensamento daqueles que compõem o poder público, e se eles não mudam, nós mudamos eles. De maneira serena e sem mudar o foco da caça às bruxas, mas com precisão e punição exemplar, vamos colocar a nossa indignação nas urnas.

Márcio Bambirra Santos
mb@mbambirra.com.br
Professor

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